segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

"People are strange" segundo Jim Morrison.



"As pessoas são estranhas quando você é um estranho
Os rostos ficam feios quando você está só(...)"


Sinceramente, essas músicas com tom de blues sujo andam ecoando na minha mente...
Ainda mais agora que as pessoas ao meu redor parecem se complicar ainda mais. Engraçado que eu vejo meus íntimos como cães se embaraçando na corrente a qual estão presos. É a minha visão mórbida que o amigo leitor precisa admitir que tem um pingo de graça!
- Vamos! Admita!
E eu pareço ser a narradora observadora bastante pretensiosa... Ilusão!
Eu não sei como me ajudar e muito menos como servir aos outros, mas me pedem a mão e eu dou-me toda.
Haha! Que vontade de rir de não sei o quê!!

Eu vou psicanalisando tão patéticamente que desisto.
Eu vou lendo Neil Gailman(o roteirista de quadrinhos mais inteligente que já vi!) com o seu impecável "Sandman" e Alan Moore(este é 'O' fodão!) com "Batman - A Piada Mortal"... enfim... Os melhores e mais profundos quadrinhos adultos! Inclusive, consegui "Asilo Arkham" que é o quadrinho no qual podemos perceber semelhanças entre o homem morcego e a Alice de Lewis Carroll!

Não. Não estou ficando louca. Eu já sou.

"Quando você é um estranho
Rostos se formam na chuva
Quando você é um estranho
Ninguém se lembra do seu nome"

domingo, 14 de dezembro de 2008

Boiando entre as ondas


Exausta, anestesiada e contente!

A maré alta vai dar uma saidinha... Eu quero é curtir o sossego da maré baixa!

Meu barquinho agüentou firme esses doze meses.
Agora vou deixá-lo na marina e tirar um cochilinho no cais junto com estrelas.



Eu quero mais é rir!

sábado, 29 de novembro de 2008

Tchan-raaan!


Surpresa!


Eis que surge a revelação 'bombástica':
"-Flake... Não é ela. É ele!"

Hahahahaha! Depois de dois meses é que os testículos deram as caras!
Engraçado foi passar a semana toda falando "Flake, sua... ops! Seu menino safado!"...
Ando meio confusa com isso, mas depois acostuma.

Ah, eu morro de rir!

domingo, 16 de novembro de 2008

Prêmio Dardos!



Obrigada ao blog Bloody Mary pela indicação ao Prêmio Dardos!
visitem o blog da Mary aqui! --> www.blood-mary.blogspot.com

Eu indico:

Dipirona Sádica
www.cafecomaspirinas.blogspot.com

Um Cubo de Açúcar
www.oxidacaodeglicose.blogspot.com

Amo vocês, minhas lindas guerreiras!
(L)

sábado, 15 de novembro de 2008

Prometa-me





Alguém me prometa,
por favor,
jamais me abandonar.

Alguém me iluda,
de forma infantil.

Que me cubra com um véu tão
fino e limpo quanto as águas
sagradas do Ganges.

Que não me tenha desprezo, mas me odeie.

Prometa-me seu ódio profundo, porque este
segura e esconde seu apreço.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O desespero dos outros




Parece que a corrida do ouro começou...
Ela [re]começa todos os dias.

E o mundo é pressa, é luta.
É Limbo. É céu, é inferno... e purgatório (também).

Ao redor é fumaça.
É névoa, cigarro, carbono em monóxidos e dióxidos.
Em tóxicos.

O ruido é entorpecente.
Harmônico ou não, entorpece de alguma forma!

O desespero alheio resulta em minha condição de 'alheia'.
O desespero alheio é um esforço em vão.
De pequenez tamanha! Pequenez!
Essa inquietação egocêntrica, noção de 'sobrevivência'...
Porque ninguém mais vive; apenas sobrevive, principalmente em selvas de pedra.
Esses habitats cinzas de tantas mesclas étnico-socio-econômicas!

O terror é deles ou vosso.
Não meu.


Barbie Destrossada(sic) & Lua (dia da caça, dia do caçador.)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Carinho




Carinho é um alívio tão grande...
Ou melhor: Um refúgio tão grande!


Sabe aqueles dias em que a única coisa que você consegue pensar que o mundo é uma droga, que a vida não presta e que você é alvo?
Pois é.
Mas ainda assim eu insisto que vale a pena resistir ao mundo, agüentar a vida e carregar uma marca de 100 pontos-bônus para os dardos da 'sociedade' na testa! Tudo isso quando se tem carinho mútuo!
Vale a pena se eu sei que, quando chego à minha casa, Bebê vai estar gritando meu nome e assobiando todas notas possíveis inventadas da sua cabeçinha verde e que Flake vai me perseguir por todo canto que eu esteja e no fim deitar em meu colo, ronronar e cochilar comigo.
Limpar sujeira de papagaio e gata é muito bom pra acordar do marasmo, sabia? Cuidar dessas criaturas pode ser cansativo, mas é bastante compensador!

Lua
(Barbie resolveu tirar umas férias, mas logo volta!)


Ouvindo no repeat: Depeche Mode - Freelove e I feel loved

sábado, 23 de agosto de 2008

Lua nova crescente



Na minha infancia, mamãe contava estórias.
Eu nem lembro da maioria... Lembro de uma em que havia duas crianças: Uma era muito magra, a outra era muito gorda. Não importava as dietas alimentares que fizessem, magrinha vivia sempre magrinha. A gordinha sempre gordinha. O palitinho comia uma elefante e o elefantinho comia um
palito. E nada mudava.
Eu usava óculos e rabo-de-cavalo. Era desastrada, quase sempre deixava o copo de leite achocolatado cair e a sala toda ficava suja - parecia que uma enchente tinha passado por nossa sala. E meus pais brigavam comigo. Comia devagar, escrevia devagar... Pensando bem... Todo mundo brigava comigo! Eu realmente tirava a paciência de qualquer um.
Com o tempo a solidão não era tão ruim assim... Eu bem gostava de brincar sozinha e nas minhas estórias de boneca a Mãe sempre trabalhava fora, o Pai era dono-de-casa e a Filha tinha uma saúde muito frágil, ficando sempre doente!
Gostava de desenhar e detestava muita gente perto de mim dizendo "Olha! Ela desenha!" - Dã!- e por isso me isolava. Ah, no final das aulas eu sempre me sentava no fundo da sala, onde havia uma estante cheia de livros... Eu li todos os de português. Também li todos os livros de português da casa da minha titia. Hahaha! Acabei me tornando fã de Luís Fernando Veríssimo!
E daí se eu falava com animais? Ainda falo!
Criei duas amigas imaginárias. Ainda amo-as.
Mas também era muito briguenta e mamãe era sempre chamada na escola. Eu tinha de me defender!
Comia vegetais sem nenhum problema, caçava rãzinhas e gostava do travesti que morava np bairro.
Gostava de cobras, aranhas, tubarões, morcegos e ratos(principalmente dos filhotes, as 'catitas',
por serem cegos e sem pêlos- tão vulneráveis!).
Uma pessoinha um tanto quanto excêntrica...


Lua.(confessando, silêncio!)

sábado, 26 de julho de 2008

Alívio já!



Só pra dizer que, apesar de tudo, eu me sinto parcialmente resolvida.



Livre, leve e solta!



P.S.: Talvez o título me lembre M.H. ... Ou talvez M.H. me lembre o título.

quinta-feira, 10 de julho de 2008



Lá vem a maldita sensação de solidão...

Mas é tão bom lembrar o quanto se é amada, principalmente naqueles momentos de desespero ou naquela situação deprimente.
E também é bom saber que eu não desejo o mal para os meus inimigos. Eu fiz um trato para lavar a alma: Evitar conflitos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008



Tirando poeira dos meus recantos mais gélidos...


Desfazer-me-ei em bondade,
em alegria,
em compreensão.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Pequena Princesa medíocre

Ando meio 'Pequeno Príncipe' nos últimos dias...
Os dias que parecem sempre os mesmos, salvo alguns detalhes.
Meus dèja-vu de particularidades andam tomando minha mente cansada e o passado esvaece cada vez mais; E ainda assim me persegue!
Eu planto minhas rosas, dialogo com elas, faço meu forninho com o simplório propósito de nutrir-me... Isso torna meus meus dias tão pares... Os céus estão sempre estrelados, contudo, perto do meu mundinho não passa uma pomba sequer para me libertar dessa rotina medíocre!
Então converso com minhas rosas e não me incomodo com seus espinhos. Aprecio as cores de suas pétalas. Que pétalas!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Pele

Teu toque
arrepia
minha pele.


Teus beijos
arrepiam
meus nervos;
fraquejam
meus ossos,
amaciam
meus músculos.


Dois corpos em coma.

domingo, 25 de maio de 2008

Uma pequena mácula

"Can you feel a little of love?
Dream on... dream on."


A tarde já ia embora e a bela luz dourada do sol transpassava as janelas. A brisa fazia com que que as finíssimas cortinas brancas levitassem suavemente.
Na cama, a Amada dormia de forma singela enquanto o dourado iluminava seu corpo nu e suado.
Tinha formas um tanto roliças: coxas grossas, panturrilhas redondinhas(as canelas também não eram nada finas), quadris largos, seios fartos. Em seu rostinho redondo abriam-se grandes olhos brilhantes, como pérolas pintadas de sépia; Tudo isso dava-lhe um ar pueril. Pueril também com todo seu jeito, aquela doçura; aquela meiguice de gente que tem medo de explorar o novo, além da vergonha que cultivava de si.
Certa vez, em seu colégio, houve uma excursão ao museu da cidade para que os alunos vissem os singelos quadros de Botelho e eis que um acéfalo grita, com o dedo estendido:
-Ela se parece com esses quadros! -Daí pra frente não houve quem não a chamasse de Botelho na sala de aula.
Mas isso não tinha importância agora, porque ela jamais imaginaria que seria amada daquela forma(quanto mais desejada!).
Ali estava a Amante: Sentada, os olhos saborendo aquele corpo deitado, desejando-a mais e mais. A Amante ainda contemplava sua ninfa doce e bela. Encantou-se com aquele ser desde a primeira vez que a viu e desejava-a como uma criança que persegue a última figurinha que falta para seu albúm.
Bebeu a última taça de vinho branco; só uma calcinha verde-água cobria seu corpo magro, os mamilos duros. Ria-se. Alegria e álcool brincavam no seu cérebro. Conquista. Sim, sim! Conquista! Lutou para tê-la, com seus melhores argumentos estratagemas. Conseguiu sua confiança, seus beijos e sua posse. Pensou como seria daqui em diante: as carícias, os beijos, as posses, os diálogos, a saudade...
A saudade...(!) Mergulhou em algo estranho, o peito apertava crescentemente. Precisava, à partir de agora, agir com discrição e prudência. Mas por quê? De repente viu o panorama completo: Passado, presente e futuro. Para cada descúido haveria uma conseqüência. Não que ela pensasse em si! Aguentava todos os raios que recebia dos céus e todos os olhares de desdém dos conservadores. Mas sabia que sua Amada não. Era frágil... Não fraca! Era doce e muito nova para aguentar a homofobia, a repulsa. Havia deixado uma pequena mácula em seu Amor, inesquecível.
Suas mãos elevaram-se à face enquanto as lágrimas corriam pelas maçãs. Soluços, soluços... Dois ou três. Encontrou-se prostrada diante do leito e só então cessou o choro para contemplá-la. Encantou-se ainda mais.


E eu preciso acreditar que as duas encontraram não só a paixão, mas também o amor. Como uma reza encrustada em minha carne, que não viu pecado no amor.

sábado, 24 de maio de 2008

Aço; puro aço.


Esses dias eu me encontro apática, sem humanidade - seja ela como for-,
puro aço!
Perdendo qualquer espécie de capacidade. Qualquer espécie de paciência.
Sim, eu sou horrenda.
Sim, eu sou falsa e mesquinha.
Tão mesquinha quanto o olhar daqueles ao meu redor na multidão.
Eu sou puro aço: um falso brilho, uma falsa graça.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Quando não, há sempre persistência!


Pela penitência persistente,
pela culpa quase que constante.
Que motivos haveriam ou não...
Quando o vento não entra quente nos pulmões,
toca com frieza a face.

sábado, 10 de maio de 2008

Mal-criada


Eu não penso precisar de compaixão
ou piedade.
Não quero a ternura de desconhecidos.
Eu realmente não preciso.
Nem a obediência dos bons meninos.
[O desejo cruel de cuspir nos dogmas pessoais]
Eu gosto é de distorcer a 'realidade' que esses alheios criam.
Pena que hoje eu não respondi mal ao meu educador,
santo!
Por hoje eu não fui uma menina mal-criada.
Eu não bati o pé e nem fiz biquinho.
Mas eu penso mal,
sim, eu penso mal...
De um modo grotesco.
Prefiro ajoelhar no milho.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Caminhar a dois


Se me encontro na estrada,
se me encontro sozinha
a caminhar,
onde será o fim?
Se me encontro sozinha
a caminhar,
logo me ponho a correr;
Fugir;
[do quê?]
[não sei]
Contudo, devo dizer:
Se estás ao meu lado,
as flores brotam sobre o meio-fio.
Se me abraçares forte, bem forte,
os carros evaecem;
a chuva inrrompe,
o mundo cala,
a lua volta,
o medo vai,
o asfalto brilha;
E talvez até os sapos coachem mais...

Os tiros cessam e meu mundo conhece a paz.
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[Foto: Jennifer e Dave Gahan caminhando... ;D]

sábado, 26 de abril de 2008

É o fim da linha

É o fim da linha, meu amigo.
Esse é o fim.
Do mundo, da vida, seu;
Seu fim.
No caminho,
longo e tortuoso,
estavas.
No fim do caminho
que percorrestes
tu não festejarás.
Não rirás,
não irás cair ou entregar-se ao pranto.
Não é permitido à ti.
O fim da linha leva ao inferno.
Ao carrasco que te açoitará
e irá te degolar com prazer...
Com um riso satânico.
E um machado.
O fim da linha te leva ao inferno.
Ao demônio que Sodoma jamais viu.
Aos olhos flamejantes da violência.
Ao medo no teu próprio olhar.
Ao medo na tua respiração ofegante.
Ah, meu caro!
Dos teus gritos de horror nascerão gargalhadas!
Dos teus gemidos altos e cansados de dor se fará a chacota!
Esse lugar,
esse fim...
Sem esperança,
sem abrigo,
sem sossego...
Ai, amigo...
Não quero ter teu fim.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

...O alvorecer do nosso amor...

"Sinto você, seu sol brilha.
Sinto você dentro da minha mente.
Você me leva lá,
você me leva ao reino dos céus,
você me leva e me guia através da Babilônia.

Esta é a manhã do nosso amor;
este é o alvorecer do nosso amor.

Sinto você, seu coração canta.
Sinto você, a alegria que isso traz,
onde o céu espera aqueles portões dourados,
e de volta novamente,
você me leva e me guia através do esquecimento.

Esta é a manhã do nosso amor;
este é o alvorecer do nosso amor.

Sinto você, sua alma preciosa
e estou inteiro.
Sinto você, seu sol nascente,
meu reino dos céus.
Sinto você, cada movimento que você faz.
Sinto você, cada respirada que você dá;
onde os anjos cantam e estendem suas asas.
Meu amor está elevado.
Você me leva para casa,
Para o trono da glóra várias vezes.

Esta é a manhã do nosso amor...este é o alvorecer do nosso amor."
[Depeche Mode - I feel you]


Apreciando nossas poucas coisas em comum, logo a tua música preferida!

Me delicio só de pensar que estou dentro de teu coração leonino...
Nosso Amor que se confunde com a Paixão.
Tua ânsia, teus braços a me aquecer;
Tuas manias que me tiram do sério.

Tua felicidade em meu coração ariano.

domingo, 13 de abril de 2008

Onde pulsa...


...um coração de ferro.

Que ri e que chora,
como todos sentem.

Provavelmente.

domingo, 6 de abril de 2008

Ao passar pelo espelho

Ao passar pelo espelho eu me deparei com você.
Não tinha porte, não era bela;
Não era interessante aos olhos meus, então por que seria à visão alheia?
(sedenta e faminta)
Se no ardor da juventude tinha sabor de morte... insosso, adstringente...
Como, então, iria se decompor?
Falei-lhe isso. Exactamente a mesma indagação.
Desta vez olhou-me pueril, inocente.
Eu? Olhei-a sem esparança, tocada, mas cheia de penas ingratas.
Ah! Aquela criança que vivia a me procurar!
Verdade. Ignorei-a(De fato, fiz-me cega), tentava fugir.
Ah!Ilusões queimei!Torturei-as!Torturei-me.
Ouvia-as gritando ao eco. Deixei-as queimar.
Saí do pensamento e então ao passar pelo espelho...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Neófitos


Deixai minhas crias voarem sobre as carnes!
Acaso não sabes que estão famintos?
E que importa se morreu a donzela?
Ainda há de servir! Fita agora o cadáver!
Em destroços, verdade.
E que importa?
Meus filhotes saciam-se! Matam a fome que lhes corrói as entranhas!
E que importa o quê somos? Fomos amaldiçoados, afinal...
Raros e incompreendidos malditos!
Fomos forjados sob um pacto... de sangue.
E que fome! Que sede! A necessidade quase que doentia de destruir diariamente tais sensações. Malditos, eternos malditos! A condição da morte, sem estar; A imprenssão da vida, sem estar. Acompanhados e perseguidos pelo infinito.
Malditos, sempre longe das luzes que expõem nossa palidez. Palidez cadavérica. Sempre escondidos da luz solar. Proteger-se e fugir.
Matar, sugar a palpitação da vida.
Já não basta tanto sofrimento?
Então deixai-nos! Precisamos do corpo desta virgem morta para servi-nos de alimento.
Deixai minha famíia sob as trevas, ou tu serás o próximo!

sábado, 15 de março de 2008

Café com hortelã

A colisão dos mundos
(Para Maria Helena, a hipocondríaca mais cativante que já vi; Confidente e sabida de meu afeto)

Era noite, a rua ainda não estava vazia e ouviam-se latidos sem casa. Mesmo com o som alto, conseguiu ouvir a campainha. Levantou-se e foi logo abrir o portãozinho, pois já sabia quem era, mas mesmo assim espiou pelo 'olho-mágico'(só por precaução).
-Que bom que você veio!Alguma novidade entre as noites de insônia e as manhãs de pílulas?-
-Encontrei um analgésico mais eficaz. E você? Tem criado algo novo? Ou já se rendeu ao tédio?
-Resolvi me render ao tédio... Ando um pouco cansada e decidi dar-me férias de mim mesma. Mas olha só! -E acabou por apontar para a pequena horta de ervas.
A noite estava escura e a lâmpada pouco iluminava, porém o verde das plantas era tão intenso que sobressaia na escuridão.
Chegaram mais perto, uma ajoelhada e a outra sentada em um banquinho de tijolos, até sentirem o aroma do hortelã.
-Eu tive uma idéia...
-Desista! Odeio chá!
-Você vai gostar...
-Não, eu não vou gostar! Meu negócio é café!
-Por isso mesmo você vai gostar! Agora você vai me ajudar a côlher um pouco de hortelã aqui...
-Melhor você côlher. Não levo jeito pra isso e da sua horta você entende. -Em um gesto simples, apoiou os braços nos joelhos entreabertos.
-Vou pegar de você aqui, tá? -Sussurrou aos raminhos.
-Essa é boa... -Olhou para um lado e quase riu -Eu não quero nem pensar que eu já entendi a asneira que você vai fazer...
-Cheira esses raminhos de hortelã... e esse de manjericão.
-Melhor não usar manjericão... Eu acho que vai ficar estranho. Muito estranho.
-O manjericão vai dar o diferencial.
-Diferencial... Até que o cheiro não é ruim,viu?!...ATCHIM!
-Já vi alergia à cremes, à chocolate e até à frutas. Mas você é a primeira, e talvez única, a ter alergia à ervas! Impressionante!
-Pare de...ATCHIM! Pare de me fazer de chacota! Essa hortelã...ATCHIM! O cheiro é forte e eu não estou acostumada!
-Claro! Óbvio e evidente! Usas tanto remédio, que, praticamente, perdestes teu sistema imunológico!
-Você parece uma mãe atazanando a filha bêbada.
-E hipocondríaca! Bêbada e hipocondríada!
-Você também gosta de beber...
-Não para me anestesiar! Mas que importa?
-...Se você gritasse dentro do meu estômago, ecoaria.
-Então vamos para a cozinha.
Levantaram-se juntas, uma foi para a cozinha e a outra ficou na sala para aumentar o volume ao máximo enquanto o nariz escorria depois de tanto espirrar.
A música era rápida e crua, quase podre. Elas gostavam de ouvir aquele timbre inacabado, quase podre.
A figura excêntrica que voltava da cozinha resolveu baixar um pouco o volume. Estava impossível manter um diálogo àquela altura.
Na cozinha, uma sentou-se e a outra foi ver a água.
-Já ferveu, não?
-Parece que sim... Eu vou fazer uma infusão.
-Fale a minha língua.
-Em resumo: Vou apagar o fogo, colocar os vegetais dentro e tampar para que não escape o vapor. É o melhor processo para se conservar as propriedades da planta, sabia?
-Não. Quem entende de chá, aqui, é você.
-Agradeço aos chineses... -Suspirou -Mudando de assunto... Eu gostei de ver você espirrar... -Olhou-a como se fosse cúmplice.
-Agora meu nariz escorre e a culpa é sua. -Disse fria, porém irônica.
-Gostei porque te mostra humana. Você não é tão fria quanto parece ser.
-Traga o café.
-Aqui o café e o açúcar.
-E a colher?
-Aqui. Como eu ia dizendo, você tem uma subjetividade objetivista. É...Eu vou pegar o chá.
-Um dia eu ainda me canso de suas idéias...
-Cansa nada! -Debochava enquanto servia o chá nos copos contendo café e açúcar. O vapor era muito agradável.
-Se eu vomitar por causa disso, a culpa também vai ser sua. -Era um tom quase ameaçador; apesar de, no fundo, não haver seriedade ou promessas naquelas palavras ditas.
-Acho que não ficou bom. Nunca mais faça essa porcaria.
-Mas também não ficou de todo ruim!
-Talvez eu tenha me enganado... A primeira sensação foi o amargor das ervas que depois fundiu-se com o sabor do café. Preciso deixar o orgulho de lado e te dar os parabéns.
-Por quê?... -Disse fingindo não saber o porquê.
-Você encontrou a única maneira de me fazer beber chá.
-Eu apenas uni o útil ao agradável.
-Qual o lado útil?
-Você vir me visitar mais vezes. Um ótimo pretexto, não?
Encararam-se por um certo tempo. Podiam até se comunicar com olhares, mas preferiam as palavras.
-Vamos tomar ar fresco?
-Morreremos de calor se ficarmos aqui! -E levantou-se exausta.
Ambas sentaram no banquinho e contemplaram o céu escuro no silêncio. De repente a música continuou, se juntando com a música dos vizinhos e os cri-cris dos grilos. Mas, ali, só uma barata era testemunha.
A outra acendeu um cigarro.
-Como vai sua filha?
-Bem. Esta semana ela fêz um boneco com palitos de picolé e me dêu para que eu colocasse na estante, ao lado da nossa foto.
-Ela está na casa do pai?
-Não... Vai passar dois dias dormindo na casa dos pais daquele imbecil. -Ao lembrar do ex-marido uma espécie de rancor lhe subiu à cabeça -E sua criança? Onde está?
-Minha florzinha? Na casa de uns amigos meus...
-Você confia neles?
-É um casal gay.
-Compreendo...
-Da próxima vez, não fume perto de mim. -A outra olhou-a com um pequeno interrogação na testa.
-Você gostaria que eu me masturbasse do seu lado?
-Foda-se. -Respondeu apáticamente e levantou-se -Preciso ir agora.
-Quando vamos nos ver?
-Quando você fizer café com chá.
-Ou quando nossas meninas se encontrarem. -Completou.
Sorriam discretamente ao invés de se despedirem.
A anfitriã abriu o portãozinho para que sua visitante pudesse ir embora.
Não gostavam de despedidas.

sábado, 8 de março de 2008

A Criação do Mundo

Passavam olhares espantados;
Olhos perseguidores,palavras ríspidas e inquisitoriais.
Palavras duras de repulsa que mais tarde geraram ódio.
Onde antes só havia solidão seria ocupado. - Com ódio.
E também havia o vazio que criou o desgosto,porém vinha a melancolia e o tédio para espalharem-se na nova Terra.
Criou-se o orgulho,inimigo da redenção.
Nasceram então os gêmeos: alegria e tristeza.
Foi descoberto o afeto e o amor.
A euforia veio sempre passageira para depois afundar-se nos brancos lençóis salgados.
E foi assim que o ódio transformou-se em desprezo.

sábado, 1 de março de 2008

Me...


me diga a verdade imutável dessa terra
-lhe respondo com minha sagrada ignorância;
me fale dos pontos de vista dessa vida;
-posso mentir,destruir a esperança
me convença do que todos merecem,
me conte histórias,
me segure nos braços que aquecem,
me fale como é bom o desejo,
me mostre coisas que eu nunca vi,
me traga as novas que eu sempre quis
-mas veja também o que eu vejo.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Estimado leitor,perdoe-me a ausência.

Apelo ao clichê do "por motivos de força maior..." para justificar o porquê de meu repentino desaparecimento e pedir seu perdão.
É bem provável que esses sumiços se repitam durante o ano corrente, mas disso eu não estou totalmente certa.
E não! Não abandonarei o blog! Minha mente ainda ferve!

Mea Culpa, Barbie Destrossada.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Éter

Vidas aéreas e sem corrosão.
Cloroformil, éter.
Folhas tão secas,tão decadentes.
Tão decadentes.
Esvoaçantes.
Éter.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Ponto de fuga


Ela estava frágil,cansada.
Nos olhamos por muito tempo e só então desviou o olhar.
Abatida!Completamente abatida!
Diferente de mim: Eu estava conformada.
A gravidade puxava sua face,incluindo as olheiras.
Sua voz tremia...
Mas não adiantava chorar.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Solitárias flores

Insólito era o momento do vácuo,que me transplantava tanta ansiedade
e de tanta ansiedade morria;
O ócio é um desespero do qual se nascem as mais lindas flores!
Ah,meus esvoaçantes amores!
Minha liberdade corrupta!
Ah,pranteio em vão!
Como todos fingem o quanto anseiam o sangue dos canalhas,a justiça plena e mais outras politiquices corretíssimas...Não movem os ossos!Nem um grito,sequer!
Pobres almas que voam no espaço do eco...
Pobre alma,aqui,lamentando...
Suspirando solitariamente.

sábado, 5 de janeiro de 2008



Vamos nos infectar, nos enfartar de ilusões;

Contaminando nossas mentes com glitter sujo,

sem ninguém para realmente se importar com ninguém;

Sem a [in]segurança do amanhã,nem a lembrança do ontem; nem do que passou,nem do que haverá;

Vamos nos alienar.

Escuridão


Escuridão nada mais é do que o silêncio visual.
Escuridão é a omissão;
Escuridão habitual...
Não!A escuridão é um clarão que pega fogo,é fogo frio que não se dói;
é um vazio que não acaba,que não escapa da verdade
e ainda que sem piedade
ela espera
e se revela.
A escuridão é o namorado de corpo,mente distante,no qual o coração não bate.
E sua menina agora é solitária.
A escuridão não tem culpa,ela apenas é sincera e mal amada.