domingo, 27 de fevereiro de 2011

Recife Rock City

Recife.

Essa terra foi feita pra mim.

Essa cidade me chama, de todas as formas.

Quando morei de veraneio em Monza, voltei pra Recife como o marido que volta do bordel pra se atirar nos braços da mulher.

- Mas porque voltastes do cabaré de luxo em que estavas? – Me indagam.

- Porque minha mulher trepa comigo como ninguém!

Acho que é esse o sentido. Ainda que eu traia um pouco meu lar, sempre retorno. Porque é meu. E ele me chama. Sim.

Após um longo inverno na França, retorno com a mesma constatação. A constatação de não agüentar mais formalidades, silêncio e outras frescuras mil. É bem verdade que adorava sair dos bares e ficar andando calmamente com amigos madrugada afora, no breu. É bem verdade que eu e minha bicicleta verde-limão tinhamos nosso espaço assegurado nas avenidas. Bem verdade também que a pontualidade e boas condições físicas do transporte público me servia de bandeja, como a um rei. Entre outros.

Mas, porém, entretanto, todavia, algo faltava nos lugares e eu sabia que não eram graus celcius na escala.

Eu tive uma visão tão clara, quase uma epifania, quando peguei o busão Alto Santa Isabel, na Conde da Boa Bicha (ou Boa Vista, como queira) pra voltar a casa do meu noivo, em Casa Forte. O fato de tê-lo pego no sentido subúrbio-centro me ofereceu um pequeno tour por R$ 1,00, graças ao meu VEM.

Pois é, o busão enfiavasse em buracos da Veneza Suja Brasileira que nem me lembrava mais. Através das pontes, dos rios fedorentos, do cais, do encontro com o mar, do Marco Zero, das paredes grafitadas – algumas com temas subjetivos em traço de xilogravura de cordel, das lanchonetes, dos bares, dos prédios e casarões mal-cuidados que pareciam mais ruínas, daqueles lugares em que andava bêbada de tudo, dos meus amores, dos meus amigos, da minha vida.

Aí Recife olhou pra mim e disse:

- Bem vinda mais uma vez. Agora faça amor comigo.

Lua de Saturno

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deus é americano

Você já pensou insanamente sob um sol devastador?
Eles pensaram.

E agir vorazmente após uma noite gélida?
Eles agiram.


Os dois rapazes eram melhores amigos, pois não tinham outros. Naquela manhã eles acordaram decididos, aprontaram-se e marcharam até a execução do plano.
Parecia um dia calmo na escola de ensino médio. Uns adolescentes eram triviais, enquanto outros eram mais que isso: Superfíciais. Enfim, não importa. Eram todos rasos. E queriam adoração. E pensavam, cada um, em suas cabeças de cavalo, serem o pólo magnético da Terra.

Pois bem... Os dois jovens entraram naquele ambiente com suas sacolas pesadas, abriram e não pararam mais de atirar contra todos, até que a munição acabasse. Até que o estrago tivesse sido bem grande.

E antes que a sinfonia das sirenes dos carros de polícia e ambulâncias se aproximasse, os dois cortaram os pulsos, cada um com seu canivete. E aproveitaram cada minuto, segundo de agonia com uma estranha sensação de dever cumprido.

Quando o resgate chegou, já estavam à poucos segundos de deixar a vida que já não tinham. A primeira pessoa que adentrou naquele lugar fitou o rosto suado de um dos garotos. Ali não havia uma expressão de dor. O que jazia ali era felicidade, que não acabaria nem com o último gargalho que daria no último suspiro. Ali jazia um sorriso largo, cru e cortado, como uma cicatriz na face. Uma caricatura doentia.

domingo, 18 de julho de 2010

"The end, my friend..."

Lua diz:
Vou tomar um banho gostoso, pintar as unhas de preto com corações vermelhos e assistir filmes e comer até explodir. Triste fim de Lua de Saturno.


Mar. diz:
Antes ter um triste fim...
do que não ter um fim, meu doce.

Amar. Amar-te.


É uma espada afiada empunhada contra veias, artérias, carne, ossos e mais todas as víceras que poderão ser encontradas.
É cálido como as lágrimas que dos meus olhos ciganos verteram.
Rígido como nosso orgulho e aconchegante como teu corpo unido ao meu.

É complicado.


Escutando desavergonhadamente "L'Excessive" de Carla Bruni e "Strangelove" do Depeche Mode no repeat.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ode à Selene

"Oh, Lua...
Por onde andas que não te vejo?
Em tanta escuridão, nesta noite profunda, desejaria acompanhar-te.
Mas oh, Lua... onde estás?
Suplico-te que, de súbito, apareças...
Suplico-te já sem alma, já sem prantos...
Suplico-te como um alguém a quem não resta mais nada...
Oh, Lua... Estás à ouvir-me?"

Mariana Silveira.

Ela é um mar de fogo me chamando.
Minha calda de framboesa.
Minha pimentinha.

Mais ondas desse Mar: http://outrosoutonos.blogspot.com/

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Fortuna

Lua diz:
Acho q tem dias q eles acordam e pensam: Ah, eu quero tirar a sanidade dela hoje...
Porque é impressionante como eles conseguem!
Mar. diz:
AHUUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAH
Só tu mesmo pra me fazer rir!
Lua diz:
hehehe
O humor (bom, ácido, seco ou a puta que pariu) é o tiro mais certeiro do mundo.
Mar. diz:
Concordo!
Tu tá bem?
Lua diz:
Não.

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Camilla diz:
Sim, que eu amo você e sinto saudade.
E queria abraçar. Porque você tava mal.
E falar pouco.
Só ficar com você.

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Não despreze as fortunas que a vida te oferece.

terça-feira, 11 de maio de 2010

"You do not talk about Fight Club"

Não é apenas um filme violento de 1999. Brad Pitt e Edward Norton não estão ali pra seduzir. Não é uma aventura de David Fincher baseado no romance de Chuck Palahniuk. Não são 139 minutos desperdiçados em hormônios. É “Clube da Luta”(Fight Club).

A estória¹ de um cidadão americano, aparentemente comum, que se envolve com um clube secreto depois de conhecer um homem chamado Tyler Durden (Brad Pitt) não é apenas isso. É mais. Bem mais!


David Fincher, diretor conhecido por “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, sabe muito bem o que faz e não parece ser nenhum aventureiro na direção deste filme. A música tema “Where’s my mind?” do Pixies cabe muito bem na película, principalmente pelas crises de insônia e confusão de Jack (Edward Norton) e as tendências suicidas de Marla Singer (Helena Bonham Carter). Outra coisa bem peculiar são as regras do Clube da Luta: “Não fale sobre o Clube da Luta./Nunca, jamais, fale sobre o clube da luta/Quando alguém gritar "pára!" ou sinalizar, a luta acaba./Somente duas pessoas por luta./Uma luta de cada vez./Sem camisa, sem sapatos./As lutas duram o tempo que for necessário./Se for a sua primeira noite no clube da luta, você tem que lutar!”


Entre cenas de porrada insanas, ambientes sujos do cotidiano e escritórios limpos e bem organizados, o filme nos fala sobre desejos reprimidos pela sociedade do consumo que diz como e em que linha devemos nos moldar. Uma das melhores partes do filme é quando Tyler percebe novos integrantes no clube e faz uma reflexão discursiva diante de todos os integrantes.


“Vejo os homens de uma geração inteira criados por mulheres...mais fortes e espertos do que nunca. Vejo todo este potencial. E vejo-o desperdiçado. Diabos, toda uma geração trabalhando em postos de gasolina, servindo mesas... Escravos de colarinho branco. A publicidade nos empurra carros e roupas...empregos que detestamos para comprarmos merdas que não precisamos. Somos os filhos do meio desta história. Sem objetivos nem lugar. Não temos nenhuma Grande Guerra. Nenhuma Grande Depressão. A nossa grande guerra é espiritual. A grande depressão é as nossas vidas. Fomos todos criados em frente à televisão para acreditarmos que um dia seríamos milionários e estrelas de cinema e de rock. Mas não vai ser assim. Estamos aprendendo isso lentamente.E estamos muito, muito zangados”. Depois disso o dono da locação do clube chega, furioso, questionando o porquê de todos aqueles homens estarem na propriedade dele. Tyler luta com ele de forma louca e escatológica.


“Clube da Luta” é recheado de atuações e cenas brilhantes falando de futilidades, comportamento e capitalismo, só que com sangue, ossos, gordura, suor, hematomas... e neurônios.



Luana Pinto Saturnino, 3º período, para a disciplina de Língua Portuguesa e Jornalismo.


¹estória: Porque eu sou old-school.