sábado, 24 de novembro de 2007

A indigente


Por esforço que alcancei;
do prazer que eliminei;
não resta vida aqui
não há força mais aqui
E das alegrias que peço de esmola
ao sofrimento usado como escola
um corpo zerado
uma mente não mais sã
e não há deveres acabados
ou a pena como irmã
Há distâncias à percorrer
caminhos à trilhar
e uma indigente que não vai esmorecer
nunca pára de andar(ou até mesmo correr)
Na Taverna da Cegueira deixei minh'alma
com anágüas de cetim,fronte negra e embriagada
já não era mais a mesma
já não tinha nada
Me perdoem,meus amigos,se a indigente vos fala!
Lhes confunde,lhes atordoa...A indigente não sabe nada!

domingo, 18 de novembro de 2007

Ironia e contradição


Uma curta cortesia à pessoas cegas.

Eu só tenho agradecimentos inúteis para todos vocês:
Obrigada por tornarem minha vida uma intensa monotonia;
Obrigada também por fazer do simples,o traumático.
Gostaria de agradecer-lhes por me criarem entre o medo e a paranóia.
Eu nunca vou esquecer que posso morrer,fatalmente,sob qualquer circunstância...nem posso escapar de todo O Mal,nem confiar em mim mesma.
Eu nem,ao menos,posso amar!
Agradeço o menosprezo e a menorização.
Agradeço a surdez e a cegueira(a mudez é minha,obrigada!).
Por incompreender,por reprimir,por gritar,por bater,por humilhar...pela desconfiança,pela incapacidade,pela pena.
Muito obrigada,mesmo!Pelo impecilho,pela chance inconcebível de que eu tenha uma vida normal.


domingo, 11 de novembro de 2007

Eu não sou aquela menina

Eu não sou aquela menina de cabelos esvoaçantes,
disposta a cair na estrada,janela aberta ao som de Guns'n'Roses.
Eu não sou aquela menina que gosta de estar com a família em churrasco de domingo.
Eu não sou aquela menina de corpo perfeito,praieira em dias ensolarados.
Eu não sou aquela menina calçada com um Nike, fazendo cooper.
Eu não sou aquela menina que calcula calorias.
Eu não sou aquela menina que desenha corações com nome do namorado.
Eu não sou aquela menina popular,que conversa com todos nas festas.

Porém...
Sou aquela caminhando entre lápides roidas.
Sou aquela que grita quando dá vontade.
Sou aquela que compra quando há promoção.
Sou aquela admiradora da indgnação do Bóris Casoy¹.
Sou aquela que adora uma 'música velha'.
Sou aquela que está anacrônica em seu guarda roupa.
Sou aquela sentada no banquinho,que come pão com manteiga olhando para a lua.
Sou aquela que misturou Vinho Moscatel com Natu Nobilis² para assistir,sozinha,um bom filme.
Sou aquela que apaga as luzes para ouvir seus mestres.

Sim,sim...minhas vontades não são maníacas.

¹Jornalista sem papas na língua,demitido pela Rede Record;
²Uísque.