domingo, 30 de agosto de 2009

A Sessão

Um céu cinza do mês de agosto anunciou uma peça... era grega.


As pessoas adentraram o recinto aos poucos e o alvoroço também. Jude se acomodou em seu
assento e para distrair os nervos resolveu entoar mentalmente uma mantra. Eu achei idiota.
Dentre os seres que ali se encontravam estava o Sargento e suas grossas sobrancelhas franzidas.

Eis que entra a Juíza com seu traje habitual e o ridículo martelinho irritante. Mas ela bate
com classe o seu martelinho até que todos os presentes se calem. Inicia-se a sessão.
É a última e a causa está ganha, é o que diz o advogado de Jude.

Jude estava melhor nos últimos tempos: ia à terapia, voltou a correr de bicicleta no parque,
cuidava de suas plantas(que eram poucas e pequenas, porém amadas), tomava remédios mais leves...
enfim! Estava se curando!
Empatizou bastante com seu psicoterapeuta e entrava em contato com o mundo aos poucos.
Jude e seus olhos cor-de-mel costumavam olhar os pombos andando no centro, seus cabelos
pretos ondulados estavam com ligas de borracha amarelas(aquelas que se amarram os maços de
cédula) nos domindos de calor, seus seios tinham mamilos rosadinhos, seus lábios eram finos e
corados. Não se irritava na TPM, mas chorava até com campanha publicitária sobre a extinção dos
ursos polares! Nunca conseguia abrir maçanetas arredondadas. Ouvia aquele programa de flackbacks
da rádio. Gostava de sardinha. Odiava azeitona. Dizia "eu te amo, mamãe" e "eu te amo, papai".
Cantava, desafinada, pra animar os amigos. E tinha muitos amigos!

Há quanto tempo rola a sessão? Bem, está no fim... a Juíza dará as conclusões finais.
Ao ouvir, o Sargento, com a face vermelha e suada, puxa a pequena arma e dá três tiros em sua
mulher. Antes mesmo de ser agarrado dá um tiro na boca, morrendo súbitamente, é claro.

A morte de Jude foi lenta.