Recife.
Essa terra foi feita pra mim.
Essa cidade me chama, de todas as formas.
Quando morei de veraneio em Monza, voltei pra Recife como o marido que volta do bordel pra se atirar nos braços da mulher.
- Mas porque voltastes do cabaré de luxo em que estavas? – Me indagam.
- Porque minha mulher trepa comigo como ninguém!
Acho que é esse o sentido. Ainda que eu traia um pouco meu lar, sempre retorno. Porque é meu. E ele me chama. Sim.
Após um longo inverno na França, retorno com a mesma constatação. A constatação de não agüentar mais formalidades, silêncio e outras frescuras mil. É bem verdade que adorava sair dos bares e ficar andando calmamente com amigos madrugada afora, no breu. É bem verdade que eu e minha bicicleta verde-limão tinhamos nosso espaço assegurado nas avenidas. Bem verdade também que a pontualidade e boas condições físicas do transporte público me servia de bandeja, como a um rei. Entre outros.
Mas, porém, entretanto, todavia, algo faltava nos lugares e eu sabia que não eram graus celcius na escala.
Eu tive uma visão tão clara, quase uma epifania, quando peguei o busão Alto Santa Isabel, na Conde da Boa Bicha (ou Boa Vista, como queira) pra voltar a casa do meu noivo,
Pois é, o busão enfiavasse em buracos da Veneza Suja Brasileira que nem me lembrava mais. Através das pontes, dos rios fedorentos, do cais, do encontro com o mar, do Marco Zero, das paredes grafitadas – algumas com temas subjetivos em traço de xilogravura de cordel, das lanchonetes, dos bares, dos prédios e casarões mal-cuidados que pareciam mais ruínas, daqueles lugares em que andava bêbada de tudo, dos meus amores, dos meus amigos, da minha vida.
Aí Recife olhou pra mim e disse:
- Bem vinda mais uma vez. Agora faça amor comigo.
Lua de Saturno